
E.I.C.H.G - ESCOLA INTERNACIONAL DE CAPOEIRA HERANÇA GUERREIRA
A Escola Internacional de Capoeira Herança Guerreira, foi fundando no dia 16 de Abril de 2009, na cidade de Destin-Florida (Estados Unidos), pelo atual Presidente e Contramestre Assumar da Conceição Borges, registrado no Conselho Regional de Educação Física de Goias com o numero de registro no CREF-14 000746-P/GO.
Conhecido no mundo da capoeira por "Moçambique", Teve seu inicio na capoeira em 1992 com o Saudoso e querido Mestre Laçador do Grupo de Capoeira Nativos. Em 2004 passa a fazer parte do Grupo Muzenza onde estagiou durante 4 anos no grupo ao qual é muito grato ao Grande Mestre Burgues pela experiencia que adquiriu, em 2011, recebeu o diploma de Contramestre de Capoeira pela Federação Desportiva de Capoeira de Goiás, reconhecido pelo grande Mestre Passarinho.
Fundado com a intenção de fazer a diferença na vida de cada um dos integrantes e para formar nao só capoeiristas, mas cidadãos de bem, agentes culturais e profissionais da capoeira.
Somos de Estilo de Capoeiragem Contemporânea por acreditar no trabalho evolutivo de grandes mestres na capoeira Angola e na Capoeira Regional. Temos como filosofia pregar o espírito de família entre os integrantes do grupo e levar a capoeira a todos os níveis sociais, raciais e religiosos e divulgando a capoeira como estilo de vida.
Em 2011 a Escola faz parceria com o Conselho Regional de Educação Física da 14ª Região CREF14/GO-TO, com o objetivo de desenvolver um trabalho com compromisso ético, com bases ciêntificas e técnicas próprias da Educação Física.
Em 2012, inicia se uma nova fase na Capoeira Herança Guerreira, que por ter uma forte admiração do trabalho pioneiro na capoeira de Goiás, realizado pelo saudoso e Grande Mestre Sabú, da Escola Terreiro de Capoeira Angola, passa receber orientações direta do Saudoso Mestre Sabú, no ano de 2015 durante o 5° Evento realizado pela Escola de Capoeira Herança Guerreira, onde estiveram presentes grandes nomes da capoeira de Goiás e do Brasil, o Mestre Sabú perante a todos e tendo como testemunho a professora Luana " Esposa e uma das primeiras mulheres da capoeira de Goias" Reconheceu o Contramestre Moçambique como Mestre da Capoeira, Mas por julgar ainda não ser o momento e ser grato ao Mestre Sabú continuou seguindo e o valorizando como discipolo, adquerindo conhecimentos e vivências com o grande e pioneiro Mestre Sabú até os seu ultimos dias de vida e no dia 27/02/2017, po volta das 03:00, o Contramestre Moçambique estava na casa do Mestre ajudando a Professora Luana a cuidar do Mestre Sabú que já se encontrava muito debilitado pelo câncer, Moçambique vivênciou Mestre Sabú dar sua ultima lição desmostrando fé, coragem e força de esperíto ao lutar bravamente contra a Morte onde realizou um bom combate mas infelizmente não resistiu e nos braços do Moçambique, partiu desse mundo para se encontrar com os Grandes Mestres do Passado. Moçambique até o presente momento continua como Contramestre de Capoeira aguardando o seu momento chegar..
Nossa formação da bateria de intrumentos é realizada da seguinte forma: 02 pandeiros, 01 Agôgô, 01 Atabaque e 03 Berimbal. O Posicionamento da bateria: Um pandeiro em cada ponta da bateria, da Esquerda para a Direita: Berimbal Viola, Médio, Gunga, Atabaque e Agôgô.
INFORMATIVO:
A todos os alunos, graduados e professores da Escola Internacional de Capoeira Herança Guerreira:
Para todos aqueles que ainda não sabem, ou não tiveram oportunidade de conhecer, seguem abaixo alguns esclarecimentos sobre a Escola:
- A Escola de Capoeira Herança Guerreira é uma entidade SEM FINS LUCRATIVOS.
- Todo o patrimônio da Escola conseguido até hoje, foi todo adquirido pelo próprio bolso do C.M Moçambique e de sua esposa graduada Orquídea (instrumentos, tatame, aparelho de som, kombi, etc).
- Quando A E.I.C.H.G decidiu por pedir uma CONTRIBUIÇÃO mensal de APENAS R$ 10,00 dos alunos, foi com o intuito de ajudar nas despesas básicas da Escola (como a manutenção do site R$ 40,00, gasolina, conserto da Kombi, instrumentos, etc), pois já estava ficando difícil para o Mestrando Moçambique e sua esposa Orquídea arcar com tudo sozinhos.
- Esta contribuição vem sendo cobrada somente daqueles que podem contribuir. SEMPRE deixamos BEM CLARO a todos que não possuem condição financeira de contribuir, que teríamos o maior prazer em lhes dar bolsa. Portanto isto JAMAIS deveria ser um impeditivo. Ninguém deverá parar de treinar por não poder pagar.
- O Grupo CHG foi criado principalmente com o intuito de levar arte, cultura e esporte para TODOS aqueles que precisam. Carentes ou não. Afim de dar-lhes uma oportunidade de participar de algo importante, que talvez jamais poderiam.
- Todo o apoio que os núcleos do CHG vem recebendo (como uniformes, instrumentos, palestras, cursos, batizados, etc), foi todo custeado pelo próprio Mestransdo Moçambique com ajuda de seus parceiros e amigos empresários.
Claro que o Mestrando Moçambique gostaria MUITO de não ter que pedir ajuda de nenhum integrante. Por isso que a nova Administração está empenhada para que um dia possamos obter recursos do governo e assim tornar este sonho uma realidade. Ou seja, capoeira acessível a todos.
Caso tenham qualquer outra dúvida, fiquem a vontade para entrar em contato comigo.
Graduada Orquidea E.I.C.H.G
Diretora Administrativa

HISTÓRIA DA CAPOEIRA
A própria palavra já denuncia seu nascimento no campo entre grandes movimentos de plantação de cana de açúcar.
As clareiras abertas na mata serviram de canal para a fuga dos negros em busca de liberdade e melhor condição de vida nos quilombos.
Mas há quem diga que a capoeira é própria da cidade, onde aquela brincadeira quase inocente das fazendas teria evoluído para a arte marcial. "Sem dúvida, ela nasceu no meio rural com a luta pela liberdade porem a malicia (mandinga capoeiristica) é urbana", afirma o pesquisador baiano Waldeloir Rego, autor de um clássico sobre o assunto, ensaio sócio-etnográfico à respeito do jogo de angola.
Só não podemos afirmar se a capoeira teve inicio em Salvador ou no Rio de Janeiro ou, provavelmente, se fez ao mesmo tempo nas duas cidades, e ainda em Recife.
RAÍZES AFRICANAS
A história da capoeira começa no século XVI, na época em que o Brasil era colônia de Portugal. A mão-de-obra escrava africana foi muito utilizada no Brasil, principalmente nos engenhos (fazendas produtoras de açúcar) do nordeste brasileiro. Muitos destes escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Os angolanos, na África, faziam muitas danças ao som de músicas. No Brasil Ao chegarem ao Brasil, os africanos perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores brasileiros. Eram constantemente alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Quando fugiam das fazendas, eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que tinham uma maneira de captura muito violenta. Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Surgia assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar surgiu o nome desta luta.Até o ano de 1930, a prática da capoeira ficou proibida no Brasil, pois era vista como uma prática violenta e subversiva. A polícia recebia orientações para prender os capoeiristas que praticavam esta luta. Em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, apresentou a luta para o então presidenteGetúlio Vargas. O presidente gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional brasileiro.
PROCESSO DE ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA NO BRASIL
Os negros, trazidos do continente Africano, eram transportados dentro dos porões dos navios negreiros. Devido as péssimas condições deste meio de transporte, muitos deles morriam durante a viagem. Após o desembarque eles eram comprados por fazendeiros e senhores de engenho, que os tratavam de forma cruel e desumana. Apesar desta prática ser considerada “normal” do ponto de vista da maioria, havia aqueles que eram contra este tipo de abuso. Estes eram os abolicionistas (grupo formado por literatos, religiosos, políticos e pessoas do povo); contudo, esta prática permaneceu por quase 300 anos. O principal fator que manteve a escravidão por um longo período foi o econômico. A economia do país contava somente com o trabalho escravo para realizar as tarefas da roça e outras tão pesados quanto estas. As providências para a libertação dos escravos deveriam ser tomadas lentamente. A partir de 1870, a região Sul do Brasil passou a empregar assalariados brasileiros e imigrantes estrangeiros; no Norte, as usinas substituíram os primitivos engenhos, fato que permitiu a utilização de um número menor de escravos. Já nas principais cidades, era grande o desejo do surgimento de indústrias.Visando não causar prejuízo aos proprietários, o governo, pressionado pela Inglaterra, foi alcançando seus objetivos aos poucos. O primeiro passo foi dado em 1850, com a extinção do tráfico negreiro. Vinte anos mais tarde, foi declarada a Lei do Ventre-Livre (de 28 de setembro de 1871). Esta lei tornava livre os filhos de escravos que nascessem a partir de sua promulgação. Em 1885, foi aprovada a lei Saraiva-Cotegipe ou dos Sexagenários que beneficiava os negros de mais de 65 anos. Foi em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, que liberdade total finalmente foi alcançada pelos negros no Brasil. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil.
Corridos, Quadra, Chula e Ladainha: a música da Capoeira
A música na Capoeira pode ser classificada de 4 formas diferentes:
Corrido: como o próprio nome já sugere, o corrido é uma cantiga que "acelera" o ritmo e que se caracteriza pela junção do verso do cantador com as frases do refrão repetido pelo coro total ou parcialmente, dependendo do tempo que o cantador dá entre os versos que canta.Ex:
Cantador: "Iê, é hora, é hora"
Coro: "Iê, é hora, é hora camará"
O cantador faz versos curtos e simples que são à toda hora repetidos e o conjunto deles é usado como refrão pelo coro. O texto cantado pode ser retirado de uma quadra, de uma ladainha ou de uma chula ou ainda de cenas da vida cotidiana, de um passado histórico ou simplesmente da imaginação do cantador. Geralmente, o corrido é cantado nos toques de São Bento Grande, Cavalaria, Amazonas, São Bento Pequeno, sempre em toques mais acelerados. No corrido, o cantador não tem a preocupação de contar nenhuma história, as frases são ditas aleatoriamente.
Quadra: é uma estrofe curta de apenas quatro versos simples, cujo conteúdo pode variar de acordo com a criatividade do compositor que pode fazer brincadeiras com sotaque ou comportamento de algum companheiro de jogo, pode fazer advertências, falar de lendas, fatos da capoeira ou figuras importantes da capoeira. Normalmente as quadras terminam com uma chamada ao coro que pode ser: camaradinha, camará, volta ao mundo, aruandê..... dentre muitas. Ex:
"No tempo que eu tinha dinheiro,
eu vivia com Iaiá.
Mas agora o dinheiro acabou,
Iaiá me deixou"
Chula: é uma cantiga curta, normalmente feita de improviso que faz apresentação ou identificação. É entoada pelo cantador para fazer a abertura de sua composição. Normalmente faz uma louvação aos seus mestres às suas origens, pode ainda fazer cultos a fatos históricos, lendas ou algo que diga respeito à roda de capoeira. É comum aos cantadores da roda usarem a chula como introdução para os corridos e ladainhas e, durante a mesma é sugerido um refrão para o coro cantar. Ex:
"Luta que era o maculelê,
Virou dança para não morrer
Capoeira, Cruzeiro, Cerrado,
Roda aberta pra quem quer jogar
O meu mestre quer ver você balançar"
Ladainha: É um ritmo lento, sofrido, dolente, é como uma reza, uma oração muito parecida com as que são feitas na igreja em louvor ao terço. O conteúdo de uma ladainha corresponde a uma oração longa e desdobrada pelo cantador em versos entremeados pelo refrão repetido pelo coro. As ladainhas,são cantadas antes do jogo. Os participantes da roda devem ficar atentos ao cantador, pois na ladainha pode ser feito um desafio e, quando for dada a senha para o inicio do jogo qualquer um pode ser chamado neste desafio. Na ladainha sempre conta-se uma história, geralmente sem a resposta do coro, que participa apenas no momento que o cantador acaba a história e entre no canto de entrada dizendo "Iê vamos simbora/Iê é hora é hora" e assim por diante, até chegar na expressão "dá volta ao mundo".
GANGA ZUMBA
Ganga Zumba foi o primeiro grande líder do Quilombo dos Palmares, ou Janga Angolana, na Capitania de Pernambuco, atual estado de Alagoas,Brasil. Zumba era filho da princesa Aqualtune e assumiu a posição de herdeiro do reino de Palmares e o título de Ganga Zumba. Apesar de alguns documentos portugueses lhe darem este nome e o traduzirem como "Grande Senhor", ele provavelmente não está correto. Entretanto, uma carta endereçada a ele pelo governador de Pernambuco em 1678, que se encontra hoje nos Arquivos da Universidade de Coimbra, chama-o de Ganazumba, que é a melhor tradução de Grande Lorde (em Kimbundu), e portanto o seu nome correto.Os quilombos ou mocambos eram refúgios de escravos foragidos, principalmente de origem angolana, que se refugiavam no interior do Brasil, principalmente na região montanhosa de Pernambuco. À medida que seu número foi crescendo, eles formaram assentamentos chamados de "mocambos". Gradualmente diversos mocambos se juntaram no chamado Quilombo dos Palmares, ou Janga Angolana, sob o comando do Rei Ganga Zumba ou Ganazumba, que talvez tenha sido eleito pelos líderes dos mocambos que formavam Palmares. Ganga Zumba, que governava a maior das vilas, Cerro dos Macacos, presidia o conselho de chefes dos mocambos e era considerado o Rei de Palmares. Os outros nove assentamentos eram comandados por irmãos, filhos ou sobrinhos de Ganga Zumba. Zumbi dos Palmares era chefe de uma das comunidades e seu irmão Andalaquituche comandava outra.Por volta dos anos de 1670 Ganga Zumba tinha um palácio, três esposas, guardas, ministros e súditos devotos no "castelo" real chamado "Macaco" em homenagem ao animal que havia sido morto no local. O complexo do castelo era formado por 1.500 casas que abrigavam sua família, guardas e oficiais que faziam parte de nobreza. Ele recebia o respeito de um Monarca e as honras de um Lorde.Em 1677, o Quilombo foi atacado por Fernão Carrilho, que fez quarenta e sete prisioneiros, inclusive dois filhos de Ganga Zumba, Zambi e Acaiene, matou outro filho, Toculo, e feriu Ganga Zumba .Em 1678, Ganga Zumba aceitou um tratado de paz oferecido pelo Governador Pedro de Almeida, o qual requeria que os habitantes de Palmares se mudassem para o Vale do Cucaú. Ganga Zona, irmão de Ganga Zumba, participou do acordo de paz entre o Quilombo de Palmares e o Reino Português, e mudou-se com Ganga Zumba para Cucaú.O tratado foi desafiado por Zumbi, um dos sobrinhos de Ganga Zumba, que se revoltou contra ele. Na confusão que se seguiu Ganga Zumba foi envenenado por um seguidor de Zumbi. Os que se mudaram para o Vale do Cucaú foram reescravizados pelos portugueses. A resistência aos portugueses continuou com Zumbi.
ZUMBI
Zumbi dos Palmares nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas. O Quilombo dos Palmares estava localizado na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do município de União dos Palmares (Alagoas). Na época em que Zumbi era líder, o Quilombo dos Palmares alcançou uma população de aproximadamente trinta mil habitantes. Nos quilombos, os negros viviam livres, de acordo com sua cultura, produzindo tudo o que precisavam para viver.Embora tenha nascido livre, foi capturado quando tinha por volta de sete anos de idade. Entregue a um padre católico, recebeu o batismo e ganhou o nome de Francisco. Aprendeu a língua portuguesa e a religião católica, chegando a ajudar o padre na celebração da missa. Porém, aos 15 anos de idade, voltou para viver no quilombo.No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após um batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após, o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, Zumbi coloca-se contra o acordo, pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados.Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as topas do governo. Durante seu “governo” a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares.O bandeirante Domingos Jorge Velho organiza, no ano de 1694, um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, é totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém é traído por um antigo companheiro e entregue as tropas do bandeirante. Aos 40 anos de idade, foi degolado em 20 de novembro de 1695. Importância de Zumbi para a História do Brasil Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e pratica da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.
HISTÓRIAS DOS QUILOMBOS
No período de escravidão no Brasil (séculos XVII e XVIII), os negros que conseguiam fugir se refugiavam com outros em igual situação em locais bem escondidos e fortificados no meio das matas. Estes locais eram conhecidos como quilombos. Nestas comunidades, eles viviam de acordo com sua cultura africana, plantando e produzindo em comunidade. Na época colonial, o Brasil chegou a ter centenas destas comunidades espalhadas, principalmente, pelos atuais estados da Bahia, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Alagoas.Na ocasião em que Pernambuco foi invadida pelos holandeses (1630), muitos dos senhores de engenho acabaram por abandonar suas terras. Este fato beneficiou a fuga de um grande número de escravos. Estes, após fugirem, buscaram abrigo no Quilombo dos Palmares, localizado em Alagoas.Esse fato propiciou o crescimento do Quilombo dos Palmares. No ano de 1670, este já abrigava em torno de 50 mil escravos. Estes, também conhecidos como quilombolas, costumavam pegar alimentos às escondidas das plantações e dos engenhos existentes em regiões próximas; situação que incomodava os habitantes.Esta situação fez com que os quilombolas fossem combatidos tanto pelos holandeses (primeiros a combatê-los) quanto pelo governo de Pernambuco, sendo que este último contou com os serviços do bandeiranteDomingos Jorge Velho.A luta contra os negros de Palmares durou por volta de cinco anos; contudo, apesar de todo o empenho e determinação dos negros chefiados por Zumbi, eles, por fim, foram derrotados.Os quilombos representaram uma das formas de resistência e combate à escravidão. Rejeitando a cruel forma de vida, os negros buscavam a liberdade e uma vida com dignidade, resgatando a cultura e a forma de viver que deixaram na África e contribuindo para a formação da cultura afro-brasileira.Comunidades quilombolas na atualidadeMuitos quilombos, por estarem em locais afastados, permaneceram ativos mesmo após a abolição da escravatura em 1888. Eles deram origens às atuais comunidades quilombolas (quilombos remanescentes). Existem atualmente cerca de 1.500 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Palmares, embora as estimativas apontem para a existência de cerca de três mil. Grande parte destas comunidades está situada em estados das regiões Norte e Nordeste.Os integrantes das comunidades quilombolas possuem fortes laços culturais, mantendo suas tradições, práticas religiosas, relação com o trabalho na terra e sistemas de organização social próprio.Você sabia?- O decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, regulamentou em todo território nacional os procedimentos para identificação, delimitação, reconhecimento e titulação das terras ocupadas por comunidades quilombolas. Portanto, as comunidades remanescentes de quilombos já são reconhecidas e amparadas pela lei brasileira. Este mesmo decreto transferiu para o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) a função de delimitar as terras das comunidades quilombolas remanescentes.
QUILOMBO DOS PALMARES
O Quilombo dos Palmares foi um dos mais importantes quilombos do Período Colonial da História do Brasil. Ele surgiu e se desenvolveu na antiga capitania de Pernambuco, na região da Serra da Barriga.O auge do Quilombo dos Palmares foi a segunda metade do século XVII, embora tenha surgido no final do século XVI.Era constituído por quilombolas (escravos fugitivos das fazendas que viviam nos quilombos) que tinham sido escravos em fazendas das capitanias da Bahia e Pernambuco.Tornou-se símbolo da resistência negra à escravidão.OrganizaçãoO Quilombo dos Palmares era composto por vários mocambos (núcleos de povoamento). Os principais foram: Subupira, Macaco e Zumbi. De acordo com historiadores, o Quilombo de Palmares atingiu de 15 a 20 mil quilombolas na segunda metade do século XVII.EconomiaOs quilombolas de Palmares viviam basicamente da agricultura de subsistência, da pesca e caça. Plantavam milho, banana, feijão, mandioca, laranja e cana-de-açúcar. Faziam também artesanato com cerâmica, tecido palha e até metais.Organização política e liderançasAlguns historiadores acreditam que o Quilombo dos Palmares tinha uma organização política semelhantes aos reinos africanos, ou seja, poder centralizado nas mãos de um líder. Ganga Zumba e Zumbi foram os líderes mais conhecidos deste quilombo.RepressãoConsiderando uma ameaça a organização política e social da colônia, o governo colonial organizou várias expedições para reprimir e dominar o Quilombo de Palmares.O quilombo foi dominado somente em 1695, após a investida militar do bandeirante Domingos Jorge Velho. Em 20 de novembro, Zumbi foi emboscado e morto.
A CAPOEIRA HOJE
Capoeira nas Academias a capoeira, antes treinada livremente pelos escravos, é agora treinada dentro das academias. A passagem dos campos de mata aberta para as salas das academias não foi a única modificação sofrida pela arte.Com a entrada da capoeira nas academias, algumas modificações ocorreram na capoeira dos escravos do engenho. Além de lugar fixo para o treinamento, foram implantados também horários para tal. Foi padronizado um uniforme que consiste em calça branca (representando as calças de saco que os negros usavam para a lida) e um cordel que deve ser amarrada no lado direito cintura da calça. Alguns grupos que praticam a capoeira Angola utilizam-se de calça preta.Os capoeiras, ou capoeiristas, agora se dividem em grupos que carregam um nome que normalmente representa a escravidão.
Comumente, os capoeiristas representam o grupo, ao qual participam, com o símbolo gravado na calça. Esses grupos ou associações tem por objetivo expandir a arte da capoeira pelo país, alguns chegando até a levar a nossa arte para o exterior.A maioria dos grupos de capoeira convivem pacificamente, apesar de cada um interpretar a capoeira de uma maneira diferente (alguns trabalham a capoeira numa visão mais folclórica, outros a entendem mais como luta, uns dão maior ênfase a parte esportiva, outros valorizam principalmente a educação pela capoeira).
Como prova do convívio de amizade entre os grupos, são realizados periodicamente encontros, que se reúnem com a finalidade de compartilhar conhecimentos.
GRADUAÇÃO, BATIZADOS E APELIDOS
Nos tempos modernos, os capoeiras são graduados de acordo com os seus conhecimentos e com o tempo de prática na capoeira. Cada graduação é representada por uma cor no cordel ou corda, que é amarrado na calça do capoeirista do lado esquerdo.Cada grupo designa um conjunto de cores que irá representar as graduações. Os indivíduos entram para as aulas de capoeira, em seguida, começam um treinamento. Nesse período inicial eles são chamados de "pagãos", ou seja, eles não foram ainda batizados. O batizado de capoeira representa o momento em que os indivíduos recebem a sua primeira graduação pelo grupo. Nesse dia eles deixam de ser pagãos, pois durante esse evento é costume entre os grupos dar um apelido ao capoeirista. O dia do batizado é um dia de grande importância para os capoeiristas, posto que, nesse dia realiza-se uma festa em que os novos capoeiras são apresentados à comunidade capoeiristica, joga com outras pessoas e desfrutam da oportunidade de até conhecerem os mestres mais antigos.
O apelido é uma tradição desde os tempos que a capoeira era considerada uma arte marginal e os capoeiristas eram obrigados a usar codinomes para não serem identificados, mediante isto, serem presos pela polícia.
CAPOEIRA VS VIOLÊNCIA
O jogo de capoeira não possui mais características violentas, perdeu seu objetivo principal do tempo da escravidão, que era a luta pela liberdade. Numa roda de capoeira um jogador não tem como finalidade acertar, ferir, lesionar ou matar o outro jogador. O jogo de capoeira não passa de uma representação, simbolismo esportivo. Na realidade eles, os capoeiristas, são companheiros que querem brincar de capoeira, recrear. Eventualmente acontecem quedas, que são interpretadas como descuido por parte de quem caiu. Importante ressaltar que o jogo, só atribui este valor recreativo dentro das academias, ou seja, em seus próprios grupos. Em se tratando de rodas informais, jogos que acontecem em parques, ruas, praias, a capoeira às vezes, perde o seu atributo de lazer e encarna o seu valor de capoeira - Luta.
RODAS
Os capoeiristas se cumprimentam todas as vezes que entram ou saem de uma roda como sinal de respeito pelo companheiro.
Fazem uma reverência também ao berimbau, pedindo e agradecendo proteção aos céus.
Acontece também um outro tipo de encontro de capoeiristas chamado "roda de rua". Essas manifestações ocorrem livremente em praças, ruas e praias.
As rodas de rua são gerenciadas por qualquer capoeirista, independendo da graduação que ele carrega, e são abertas para qualquer um que queira participar.
Normalmente essas rodas são pacíficas, mas como elas são abertas para o público, alguns capoeiristas acabam querendo resolver suas rixas com outros capoeiristas nessas rodas, a fim de demonstrar superioridade sobre qualquer aspecto.
Para iniciar o jogo da capoeira, os capoeiristas dirigem-se para onde estão os instrumentistas e agacham-se ao pé do berimbau "afirma Areias (1983 p.96).
Durante a roda, que é comandada por instrumentos como o berimbau, o pandeiro e o atabaque, são entoadas cantigas que tem seu refrão repetido por todos os participantes da roda. Quem define as músicas e dita a velocidade do jogo é o tocador de berimbau. O ritmo começa lento e termina rápido, onde só os capoeiristas mais graduados devem jogar".
Depois da roda, alguns capoeiristas optam por fazer exercícios de força, como abdominais, flexões de braço ou elevação em barra fixa. Outros treinam saltos acrobáticos, ou treinam golpes atingindo sacos de areia.
TRÊS ESTILOS DE CAPOEIRA
A capoeira possui três estilos que se diferenciam nos movimentos e no ritmo musical de acompanhamento. O estilo mais antigo, criado na época daescravidão, é a capoeira angola. As principais características deste estilo são: ritmo musical lento, golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e muita malícia. O estilo regional caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas. Já o terceiro tipo de capoeira é o contemporâneo ou capoeiragem, que une um pouco dos dois primeiros estilos. Este último estilo de capoeira é o mais praticado na atualidade.
MESTRE BIMBA
A Vida do Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado) filho de Luiz Cândido Machado e Maria Martinha do Bonfim, nasceu no bairro de Engenho Velho, freguesia de brotas, Salvador Bahia em 23 de novembro de 1900. Recebeu esse apelido devido a uma aposta que sua mãe fez com a parteira que o " aparou " . Ao contrário do que a Mãe achava, a parteira disse que iria nascer um menino, se fosse receberia o apelido de "Bimba" pôr se tratar, na Bahia, de um nome popular do órgão sexual masculino..A PráticaComeçou a praticar capoeira aos 12 anos de idade na estrada das Boiadas, hoje o Bairro Negro da Liberdade, com o africano Bentinho, capitão da navegação Baiana. Foi estivador durante 14 anos e começou a ensinar capoeira aos 18 anos de idade no Bairro onde nasceu no "Clube União em Apuros". Até 1918 não existia academias como hoje e treinava-se nas esquinas, nas portas dos armazéns e até no meio do mato..O Surgimento da RegionalConsideramos ineficaz e muito folclorizada a capoeira da época, devido ao fato de os movimentos eram extremamente disfarçados, mestre Bimba resolveu desenvolver um estilo de capoeira mais eficiente, inspirando-se no antigo "Batuque" (luta na qual seu pai era um grande lutador, considerado até um campeão) e acrescentando a sua própria criatividade, introduziu movimentos que ele julgava necessário para que a capoeira fosse mais eficaz. Então em 1928, mestre Bimba criou o que ele denominou "Capoeira Regional Baiana" por ser esta praticada única e exclusivamente em Salvador..O Reconhecimento da Capoeira no BrasilA partir da década de 30, com a implantação do Estado Novo, o Brasil atravessou uma fase de grandes transformações políticas e culturais, onde os ideais nacionalistas e de modernização ficaram em evidência.Nesse contexto, surge a oportunidade de Mestre Bimba fazer com que o seu novo estilo de capoeira alcançasse as classes sociais mais privilegiadas. Em 1936 fez a 1º apresentação do trabalho e no ano seguinte foi convidado pelo governador da Bahia,o General Juracy Magalhães, para fazer uma apresentação do palácio do governador onde estavam presentes autoridades e convidados, inclusive o presidente da época que gostou muito da apresentação. Dessa forma a capoeira é reconhecida como"Esporte Nacional" Mestre Bimba foi reconhecido pela Sec. Ed. Ass. Pública ao estado da Bahia como Professor de Educação física e sua academia foi a 1ª no Brasil reconhecida por Lei..A diferençaO que faz com que Mestre Bimba se destacasse do demais capoeiristas de sua época, é que ele foi o 1º a desenvolver um sistema de ensino e a ensinar em recinto fechado. Além desse sistema , ele elaborou técnicas de defesa Pessoal até mesmo contra armas . Mestre Bimba preocupava-se demais com a imagem da Capoeira, não permitindo treinar em sua academia aqueles que não trabalhavam nem estudavam..A Morte em 1973, Mestre Bimba, por motivos financeiros, deixou a Bahia, sob acusação de que os "Poderes Públicos" Jamais haviam o ajudado. Faleceu em Fevereiro de 1974 em Goiânia, vítima de um derrame cerebral..Antigo Método de Treinamento de BimbaMestre Bimba desenvolveu o 1º método de ensino que vemos a seguir como ele funcionava:• Exame de admissãoDizia-se que em outros tempos, Mestre Bimba aplicava uma "Gravata" no pescoço do indivíduo que quisesse treinar e dizia "Agüenta ai sem chiar", Se agüentasse o tempo que ele mesmo determinava estaria matriculado. Mestre Bimba justificava esse critério dizendo que só queria macho em sua academia. Mais tarde mudou os critérios, Submetendo o Candidato a fazer alguns movimentos para que ele pudesse avaliar se o pretendente tinha condição ou não para praticar a capoeira regional. A próxima fase seria aprender a "Seqüência de Ensino".• O AprendizadoO aluno nesse fase aprendia o que se chamava "Seqüência de Ensino" que eram as oito seqüências de movimentos de ataque, esquivas e contra ataque destinadas somente aos iniciantes, simulando as situações mais comuns que o aluno enfrentaria durante o jogo de capoeira..Observação:Esse foi o 1º método de ensino criado para ensinas alguém a jogar capoeira e o calouro treinava essas seqüências em duplas sem o acompanhamento dos instrumentos. Quando estas estivessem bem decoradas o Mestre dizia: "Amanha você vai entrar no aço, no aço do Berimbau".Era comum naquele tempo dizerem que o capoeirista quando agarrado, não tinha como reagir. Então mestre Bimba, com sua criatividade ensinava seus alunos quais eram as melhores saídas.Todos esses ensinamentos faziam com que o método de mestre Bimba fosse incomparável e esse treinamento durava cerca de 3 meses só então é que o aluno seria batizado..O BatizadoO batizado era quando o aluno jogava pela 1ª vez na roda com o acompanhamento dos instrumentos que era formado por 1 berimbau e 2 pandeiros. O mestre escolhia o formado que jogaria com o calouro e então tocava o toque que caracteriza a capoeira regional, para isso o calouro era colocado no centro da roda para que o formado ou o próprio mestre desse um apelido a ele. Escolhido o "nome de guerra" todos aplaudiam e então o mestre mandava o calouro pedir a "Benção" do padrinho, e ao estender a mão para o formado que o batizou, receberia uma "Benção"(Golpe frontal dado com a parte inferior do pé empurrando o adversário na altura do peito) que o jogava no chão. Era necessários pelo menos, 6 meses de treino para se formar na Capoeira Regional. O exame era realizado em 4 domingos seguidos, no Nordeste de Amaralina, academia do mestre, os alunos a serem examinados eram escolhidos por ele. Durante 4 dias os alunos eram submetidos a algumas situações onde teriam que mostrar os valores adquiridos durante a fase de aprendizado, como por exemplo: força, reflexo, flexibilidade e etc. No último domingo é que o mestre dizia quem havia sido aprovado e então ensinava novos golpes e também marcava o dia da formatura..A FormaturaA cerimônia iniciava com uma roda de formados antigos para que as madrinhas e os convidados pudessem ver o que era a Capoeira Regional. Mestre Bimba ficava ao lado do som, que era formado por 1 Berimbau e 2 pandeiros, comandando a roda e cantando as músicas características da Regional. Terminada a roda, o mestre chamava o orador que geralmente era um formado mais antigo para falar um breve histórico da Capoeira Regional e do mestre.Após o histórico, o mestre entregava as medalhas aos paraninfos e os lenços azuis (Graduação dos Formados) as madrinhas.O paraninfos colocava a medalha ao lado esquerdo do peito do Formado e as madrinhas colocavam os lenços nos pescoços dos seus respectivos afilhados. A partir dai os formados demonstravam alguns movimentos a pedido do mestre para mostrar a sua competência, incluindo os movimentos de "cintura desprezada", "jogo de floreio" e o "escrete" que era o jogo combinado com o uso dos Balões.Para terminar, chegava a hora do "Tira-medalha" onde o recém formado jogava com um formado antigo que tentava tirar a sua medalha com qualquer golpe aplicado com o pé. Só então depois de passar por isso tudo é que o aluno poderia se considerar aluno formado de mestre Bimba, tendo direito até de jogar na roda quando o mestre estivesse tocando Iuna que é o toque (onde quem joga hoje são só os mestres) criado por ele para esse fim. A partir dai só restava o curso de especialização que veremos a seguir..O Curso de EspecializaçãoTinha duração de 3 meses, sendo 2 na academia e 1 nas matas da Chapada do Rio Vermelho Tratava-se de um treinamento de guerrilha, onde aconteciam as emboscadas, armadilhas e etc., que consistia em submeter o formado a situações das mais difíceis, desde defender-se de 3 ou mais Capoeiristas, até defender-se de armas. Terminado o curso, o mestre fazia a mesma festa para os novos especializados, e estes recebiam o lenço vermelho a cor que representava a nova graduação. O aluno que se formava ou se especializava, tinha a o dever de pendurar um quadro com a foto do mestre, do padrinho, do orador, e a própria foto.ConclusãoMestre Bimba realmente foi o grande "propulsor" da Capoeira no Brasil mas , muitos dos Métodos citados acima não são mais usados na verdade grande parte deles nao existe mais a muito tempo mas, foram muitos úteis.
Mestre Bimba escreveu estes mandamentos afixados em uma das paredes de sua academia, e os recomendava a todos os alunos capoeiristas em geral:
• Respeitar o Mestre e guardar disciplina durante os treinos.
• Manter vigilância permanente em todo o ambiente.
• Não perder de vista os movimentos dos parceiros.
• Manter a calma em todas as situações.
• Cuidar da segurança dos companheiros de treino.
• Zelar pela higiene do ambiente de treino.
• Não usar conhecimentos adquiridos em brincadeiras ou agressões de rua.
• Obedecer ao comando do berimbau durante a prática da capoeira.
• Obedecer às instruções do Mestre durante os treinos.
• Praticar diariamente todos os movimentos já aprendidos.
• Não se afastar nem virar de costas para o parceiro.
Para nós Capoeiristas só resta dizer: Muito obrigado ao Mestre Bimba.
MESTRE PASTINHA
Vicente Joaquim Ferreira Pastinha (Salvador, 5 de abril de 1889 — Salvador, 13 de novembro de 1981), foi um dos principais mestres de Capoeira da história.Mais conhecido por Mestre Pastinha, nascido em 1889 dizia não ter aprendido a Capoeira em escola, mas "com a sorte". Afinal, foi o destino o responsável pela iniciação do pequeno Pastinha no jogo, ainda garoto. Em depoimento prestado no ano de 1967, no 'Museu da Imagem e do Som', Mestre Pastinha relatou a história da sua vida: "Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza." A vida iria dar ao moleque Pastinha a oportunidade de um aprendizado que marcaria todos os anos da sua longa existência."Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui". Começou então a formação do mestre que dedicaria sua vida à transferência do legado da Cultura Africana a muitas gerações. Segundo ele, a partir deste momento, o aprendizado se dava a cada dia, até que aprendeu tudo. Além das técnicas, muito mais lhe foi ensinado por Benedito, o africano seu professor. "Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (…). Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito."Foi na atividade do ensino da Capoeira que Pastinha se distinguiu. Ao longo dos anos, a competência maior foi demonstrada no seu talento como pensador sobre o jogo da Capoeira e na capacidade de comunicar-se. Os conceitos do mestre Pastinha formaram seguidores em todoBrasil. A originalidade do método de ensino, a prática do jogo enquanto expressão artística formaram uma escola que privilegia o trabalho físico e mental para que o talento se expanda em criatividade. Foi o maior propagador da Capoeira Angola, modalidade "tradicional" do esporte no Brasil.Em 1941, fundou a primeira escola de capoeira legalizada pelo governo baiano, o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), no Largo do Pelourinho, na Bahia. Hoje, o local que era a sede de sua academia é um restaurante do Senai.Em 1966, integrou a comitiva brasileira ao primeiro Festival Mundial de Arte Negra no Senegal, e foi um dos destaques do evento. Contra a violência, o Mestre Pastinha transformou a capoeira em arte. Em 1965, publicou o livro Capoeira Angola, em que defendia a natureza desportista e não-violenta do jogo.Entre seus alunos estão Mestres como João Grande, João Pequeno, Curió, Bola Sete (Presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola), entre muitos outros que ainda estão em plena atividade. Sua escola ganhou notoriedade com o tempo, frequentada por personalidades como Jorge Amado, Mário Cravo e Carybé, cantada por Caetano Veloso no disco Transa (1972). Apesar da fama, o "velho Mestre" terminou seus dias esquecido. Expulso do Pelourinho em 1973 pela prefeitura, sofreu dois derrames seguidos, que o deixaram cego e indefeso. Morreu aos 93 anos.Vicente Ferreira Pastinha morreu no ano de 1981. Durante décadas dedicou-se ao ensino da Capoeira. Mesmo completamente cego, não deixava seus discípulos. E continua vivo nos capoeiras, nas rodas, nas cantigas, no jogo. "Tudo o que eu penso da Capoeira, um dia escrevi naquele quadro que está na porta da Academia. Em cima, só estas três palavras: Angola, capoeira, mãe. E embaixo, o pensamento:"Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista."
MESTRE SABÚ
Mestre Sabú e a Capoeira Angola em Goiás:
história, sonhos e dilemas de um educador popular
Resumo
Este texto apresentará o resultado de uma pesquisa histórica acerca da Capoeira em Goiás a partir dos relatos, contribuições e da própria história de vida do Mestre Sabú – pioneiro da capoeira no estado. O estudo teve como preocupação identificar a sua prática com a Capoeira Angola, bem como, sua dedicação na defesa da Capoeira enquanto ação cultural e educativa na formação humana de jovens em situação de marginalização social. O método de pesquisa foi baseado na história, a partir da História Oral, onde foram levantados informações, depoimentos e falas diretas do mestre e de outras pessoas acerca de sua trajetória histórica, seus dilemas e de sua paixão pela Capoeira. Os dados da pesquisa foram analisados de forma qualitativa procurando compreender, criticamente, a prática deste sujeito (Mestre Sabú) no âmbito da Capoeira Angola e da Educação Popular. O resultado desse estudo superou as expectativas iniciais, desvelando uma história genuína de lutas, pioneirismo e persistência em prol da Capoeira Angola.
Unitermos: História. Capoeira Angola. Educação Popular.
Este artigo é síntese do trabalho de conclusão de curso Sra. Tatiana Tucunduva, com mesmo título, apresentado à Faculdade de Educação Física da UFG. Sob a orientação do Professor Ms. Nivaldo Antônio Nogueira David.
Introdução
O estudo da Capoeira é de suma importância no meio acadêmico, já que representa uma grande manifestação histórica, social e cultural. Nesse sentido, olhando para a particularidade dessa manifestação, que se apresenta aqui no estado de Goiás, chegamos ao Mestre Sabú, discípulo de Mestre Caiçara da Bahia. Mestre Sabú, foi quem primeiro trabalhou na divulgação e na efetivação prática da Capoeira Angola em Goiás. Nossa hipótese provisória é de que além do trabalho com a Capoeira Angola, Mestre Sabú, foi quem ofereceu importantes contribuições em projetos sociais, atuando como um educador popular via capoeira, junto às crianças de rua na cidade de Goiânia. O método de estudo histórico desenvolvido, teve como pressuposto as bases do pensamento dialético-materialista, sua escolha se deveu especialmente por entendermos que ele representa uma forma de pensar e investigar a realidade tomando-a como totalidade histórico-social. No campo do método histórico, utilizamos da metodologia da História Oral por se tratar de uma abordagem que lida com o tempo presente. A História Oral questiona não somente os caminhos para a construção do conhecimento, mas, seu caráter, sua natureza e condição de possibilidade.
Nesta abordagem metodológica, inexiste uma versão única, pois são múltiplas, processuais e polissêmicas as interpretações da história dos acontecimentos, das experiências vividas. Em suma, a metodologia da Historia Oral problematiza a própria noção de verdade científica hegemônica na ciência moderna. (PRAXEDES; TEIXEIRA, 2006, p. 157).
No trabalho utilizamos de diferentes procedimentos desde as entrevistas semi-estruturadas, gravadas e filmadas, como também outras estratégias nas abordagens dos sujeitos (Mestre Sabú e seus antigos alunos) envolvidos direta ou indiretamente no objeto de estudo. Em síntese, este estudo histórico deu ênfase aos aspectos qualitativos dos dados (informações/depoimentos) visando aprofundar nos significados, nas ações e nas relações humanas existentes no fenômeno social-cultural denominado Capoeira Angola, compreendendo e analisando-o a partir da prática educativa de Mestre Sabú.
Mestre Sabú – uma vida dedicada a Capoeira Angola
Nascido na cidade de Goiás, no dia 06 de Maio de 1940, Manoel Pio Sales, filho de Benedito Rodrigues do Rosário e Maria de Sales Pinheiro, já falecidos. Ainda criança, quando esteve em viagem à Bahia, ficando na casa de um tio o Sr. Francisco de Sales Pinheiro, no bairro chamado Terreiro de Jesus, teve o seu primeiro contato com a Capoeira: “Passei pelo Pastinha quase dois anos, depois com mestre Noronha que era muito amigo dele, e aí foi que eu me formei já com o Caiçara” (Mestre Sabú, 30/06/2008).
Para Mestre Sabú, é na Capoeira Angola de Mestre Caiçara, que se encontra a raiz da Capoeira Angola que ensina. Ao falar a respeito do Mestre Caiçara, via nele uma pessoa de ética, postura, perseverança, que tem a segurança do que está praticando e ensinando.
Embora gostasse da capoeira, foi em busca de outras fontes e experiências por sua passagem pela Bahia, Mestre Sabú teve oportunidade de aprender Vale Tudo e Luta Livre com o Mestre Valdemar Santana, prática que mais tarde lhe daria subsídios (financeiros) para trabalhar com a Capoeira Angola em Goiás.
Quando em 1958/1959, Sabú veio para Goiânia, a Capoeira ainda não era aceita em grande parte pela população, pois acreditava-se se tratar de terreiro de macumba: [...] eu mantive a capoeira viva até ter a aceitação pela sociedade, pois não tinha aceitação infelizmente. (Mestre Sabú, 30/06/2008).
Em 1960, o Mestre inicia suas atividades desportivas em Goiânia, com o Vale Tudo e a Luta Livre, com essas práticas ele sustentou sua família durante anos, e ao mesmo tempo, mantendo-se paralelamente as suas atividades com o ensino da capoeira.
Apesar de todo o preconceito e discriminação que sofria na época para assegurar o ensino da Capoeira, Mestre Sabú, não perde o interesse em divulgá-la paralelamente junto às lutas que realizava. Além de ensinar a capoeira no seu Terreiro de Capoeira Angola na Vila Redenção, ele também fabricava e ensinava neste mesmo lugar, na produção de instrumentos, como: atabaque, agogô, afoxé, nazal, reco-reco, maracá, tamborim, surdo, cuíca, tumbadôra, timbau, berimbau, ganzá, sendo mais tarde outra fonte de sobrevivência quando ele passa a se dedicar exclusivamente à Capoeira. Todo esse conhecimento já foi exposto por Brito (2009), tomando o Mestre Sabú como um autodidata:
Nas entrevistas com o Mestre Sabú percebemos que ele foi um grande autodidata. Ele nos revela como aprendeu a fazer os instrumentos sem ninguém pra ensiná-lo: “Aprendi por necessidade. Eu comprava os instrumentos e os pesquisava. Por exemplo, eu comprei o Agogô e estudava a grossura da chapa, fazia e não ficava bom, aí fazia de novo com outra chapa até ficar igual ao que eu havia comprado”. (BRITO, 2009, p. 44).
Todos os domingos ao ir para as feiras fazer as suas apresentações com o grupo e, aproveitando do momento, também vendia seus instrumentos, divulgava e chamava a atenção da população para sua banca. Sua luta foi na direção de superar os obstáculos encontrados na sociedade para divulgar a Capoeira, considerada, na época, como “coisa de malandro”.
Diante destes problemas, Mestre Sabú resolve ressignificar a Capoeira passando a estudar suas raízes e história, faz algumas adaptações e, nestas bases, procura efetivar as implementações que ele passou a denominar de Capoeira Arte:
Nós temos a capoeira específica de Goiás. Que eu criei pra Goiás. Uma Capoeira Arte, porque a sociedade não aceitava mais um jogo da zebra, esse tipo de jogo pesado. Então nós criamos uma capoeira típica do estado de Goiás, com algumas modificações de fugas pra dar mais agilidade, dar mais arte na capoeira, foi um trabalho ardoroso, estudo de muito e muitos anos. (Mestre Sabú, 30/06/2008).
E, com mais convicção, tomando a história da Capoeira como referência de sua assertiva, continua:
E não é que eu praticamente eu criei, eu trouxe da origem. Quando o Marechal Deodoro da Fonseca, impressionado pela crescente onda de criminalidade, deu combate aos capoeiras, todos os praticantes da ginástica nacional eram sumariamente recolhidos para trabalho forçado [...]. Foi decretado que não podia treinar mais capoeira, como o senhor de engenho ficava na varanda aos domingos e os escravos estavam de folga, as mulheres iam dançar candomblé, samba de roda, samba duro, coisa e tal para divertimento, como eles não podiam jogar capoeira, eles começaram a fazer uma capoeira floreada, é uma capoeira que ela desenhasse o espaço com o seu corpo, linda de se assistir e que não saía nenhuma gota de sangue, ninguém morria, ninguém quebrava nada, aí que a capoeira sobreviveu e essa origem dessa capoeira eu trouxe ela para cá. (Mestre Sabú, 21/07/2009).
Mestre Sabú deixa claro, a partir destas afirmações, que a sua ação tinha relações com a história, com as origens deste fenômeno cultural, para poder assim ir modificando, construindo, adaptando o seu trabalho às necessidades características do tempo histórico. Esse trecho referente às raízes da Capoeira, que Mestre Sabú faz questão de recordar, torna-se aqui fundamental para explicar a raiz da sua capoeira e, consequentemente, de toda a história que ele conta nos eventos de capoeira onde ele é convidado a falar.
É interessante ressaltar que em todas as oportunidades de contato com as novas gerações, Mestre Sabú sempre insiste em retomar essa história que grande parte dos praticantes estão “a par”. Às vezes, em certas situações, o público se satura com a sua fala, respeitando-o apenas pela idade. São ouvidos insensíveis que parecem não perceber que para compreender o presente da Capoeira torna-se obrigatório conhecer o seu passado. Lembrar inclusive que a Capoeira foi uma forte expressão de resistência dos povos (negros) oprimidos, que sua identidade e raiz geradora nascem deste contexto. Pois, tal relato fortalece as tradições, deixando ou contrapondo ao sentido de produto, artefato ou objeto de consumo social desenraizado de seu verdadeiro movimento.
É isso que está dito nas entrelinhas das falas de Mestre Sabú, que insistentemente e às vezes credulamente tenta repassar. Sempre, quando termina a de contar a história da Capoeira, sabiamente alerta para que eles cuidem da nossa cultura, nossa raiz e tenha respeito pelo seu próximo, pois sem este último, não é possível chegar a uma unidade.
Mestre Sabú representa essa unidade constituinte entre o homem, a história e a cultura e, nela, busca novos olhares e valores que são apropriados e, ao mesmo tempo, que podem ser modificados levando em conta sempre a valorização dos sujeitos, da prática e de sua participação social.
A partir das relações do homem com a realidade, resultante de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando os espaços geográfícos. Faz cultura. (FREIRE, 1979, p. 43).
Ele desenvolveu seu método e a própria técnica para ensinar a capoeira. Não qualquer capoeira, mas uma Capoeira com movimentos precisos, que calcula e tem o sentido da distância de um golpe para o outro, aproveitando as potencialidades de um corpo - que é ao mesmo tempo arma (de luta, defesa dos marginalizados, negros e escravos) e arte (que desenha os movimentos no espaço, com toda gracilidade e artimanha) próprias do jogo e ginga da capoeira.
O Trabalho com meninos de rua
Segundo Emílio Vieira (1973), Mestre Sabú realizou um importante o trabalho junto aos jovens na época, revelando, do ponto de vista social e da própria história da capoeira, uma contradição, pois sai da condição de marginalidade para a ideia de prática compensatória no sentido de recuperar as pessoas para viverem em sociedade.
Os conflitos, destacados pelo autor, se encontram principalmente pelo o preconceito do branco sobre o negro e de suas práticas no âmbito da sociedade, coisa que pode ser vista até os dias atuais pelos que não conhecem a história e a luta de resistência e liberdade dos oprimidos. Urge destacar que, fora de suas origens, os atuais atores protagonizam uma nova concepção de Capoeira, dentre elas, a de ser uma prática “marginal”, mas que em muito contribui para formação de uma sociedade mais justa e fraterna, pela sua composição da cultura brasileira.
Através do contato com o povo, no trabalho de divulgação da Capoeira na Feira de Arte, que os meninos de ruas foram sensibilizados e motivados por Mestre Sabú à prática da Capoeira. Mas apesar de essas crianças chegarem a esse estado de marginalização, Mestre Sabú percebeu que elas eram crianças dóceis, “a necessidade e a circunstância da vida estava levando eles para um caminho errado”. Logo, seu trabalho foi de mostrar novas oportunidades para eles viverem melhor e com dignidade, executando assim um trabalho não só com a capoeira, mas por meio de um trabalho social e pioneiro em sua época. Brito (2009) ressalta:
Numa época em que trabalhos sociais eram apenas para dar status para políticos, Mestre Sabú, de 1974 a 1984, chegou a cuidar de quase 500 crianças no seu Terreiro de Capoeira Angola. A partir do desenvolvimento na fabricação dos instrumentos pelas crianças capoeiristas. (p. 35).
Com essa iniciativa, Mestre Sabú encontrou também certas barreiras com políciais corruptos, que queriam manter os garotos que tinham iniciação em atividades ilícitas, passando a ter problemas também financeiros no que tange a manutenção do trabalho que desenvolvia com essas crianças. Mas com essa adversidade, encontrou outras formas de subsistência como, por exempo, em expor seus instrumentos e aproveitando para divulgar a capoeira em Brasília com suas Rodas de Capoeira na Torre da TV.
Assim, com a renda de fabricação e venda de instrumentos, chegou a comprar um ônibus para dar mais dignidades às crianças que cuidava, fazendo apresentações em Goiânia e Goiás.
A primeira turma formada pelo Mestre Sabú foi no ano de 1973, e foi composta de crianças menores de rua, consideradas socialmente como maloqueiros, ladrões e vagabundos:
Mas não era nada disso, era criança de rua, sem berço sem oportunidade, só o ser humano esperando por uma oportunidade, todo mundo via eles como um marginal, só o mestre que enxergou eles como seres humanos e mostrou que pode ser recuperada qualquer criança para a sociedade por mais perversão que já colocaram na cabeça dela, má informação. (Mestre Sabú, 21/07/2009)
O desrespeito aos direitos básicos e essenciais aos seres humanos permitem que crianças ainda pequenas tenham que lutar para sua sobrevivência, tornando-se vítimas de um sistema injusto que lhes nega o básico, e, por falta de oportunidade e mesmo de quem possa acreditar nas possibilidades e potencialidades desses meninos em ser mais, a violência e a bandidagem se tornam caminhos certos para estes seres humanos. É como Mestre Sabú afirma: só o ser humano esperando uma oportunidade.
Mestre Sabú levanta a preocupação com a questão social, onde é preciso ter outro olhar sobre a realidade em que nos encontramos, é preciso acreditar tal qual como Freire (2005) na possibilidade da humanização como vocação dos homens.
A desumanização, que não se verifica, apenas, nos que têm sua humanidade roubada, mas também, ainda que de forma diferente, nos que a roubam, é distorção da vocação do ser mais. É distorção possível na história, mas não vocação histórica. Na verdade, se admitíssemos que a desumanização é vocação histórica dos homens, nada mais teríamos que fazer, a não ser adotar uma atitude cínica ou de total desespero. A luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como “seres para si”, não teria significação. Esta somente é possível porque a desumanização, mesmo que um fato concreto da história, não é porém, destino dado, mas resultado de uma “ordem” injusta que gera a violência dos opressores e esta, o ser menos. (FREIRE, 2005, p. 32).
A luta do Mestre Sabú começa com a Capoeira, porém, sendo esta uma manifestação também social, a luta expande suas possibilidades em reverter a lógica perversa imposta por um sistema injusto e opressor.
Ao conceber a Capoeira Angola como um movimento de resistência seus educadores passam a ter um papel social de extrema relevância, na afirmação dos homens como pessoas e na ruptura do processo de desumanização, pois estas condições não são dadas eternamente.
Apesar de ter firmeza no trabalho ao qual se prestou, Mestre Sabú não obteve tanto êxito em seu trabalho em detrimento da falta de um apoio governamental que lhe desses subsídios para sua atuação. E, com toda sua sensibilidade e humildade, atitude de querer carregar os problemas sociais todos para si, começa a adoecer chegando a um estágio de perturbação mental, pois sua angústia era de não conseguir amparar a todos que precisavam de seu apoio.
Sabú – um educador popular
A Educação Popular pode ser concebida em uma de suas formas por um conjunto de práticas presentes no interior de sua própria cultura, onde em suas redes e regras as pessoas das classes populares vivem experiências endógenas de produção e transferência de seu próprio saber (Brandão, 1985). Tendo a Capoeira como um fenômeno cultural gestado e manifestado na cultura das classes populares, pode também ser tomada como um meio de Educação Popular. Para Freire (1979), a solução aos problemas angustiantes do povo, deve ir de encontro ao povo:
[...] e ajudá-lo, a inserir-se no processo, criticamente. E esta passagem, absolutamente indispensável à humanização do homem brasileiro, não poderia ser feita nem pelo engodo, nem pelo medo, nem pela força. Mas, por uma educação que, por ser educação, haveria de ser corajosa, propondo ao povo a reflexão sobre si mesmo, sobre seu tempo, sobre suas responsabilidades, sobre seu papel no novo clima cultural da época de transição. Uma educação que lhe propiciasse a reflexão sobre seu próprio poder de refletir e que tivesse sua instrumentalidade, por isso mesmo, no desenvolvimento desse poder, na explicitação de suas potencialidades, de que decorreria sua capacidade de opção. Educação que levasse em consideração os vários graus de compreensão da realidade, em seu condicionamento histórico-cultural [...]. (p. 58/59)
Uma das características da Educação Popular, segundo Fleuri (1990), é ter como sujeitos de sua ação, os grupos, a comunidade e os movimentos sociais, e é seu objetivo construir novas formas de organização social que superem a exploração e a dominação vigentes.
Dentro dessa visão, o conhecimento é um elemento construído socialmente com os sujeitos envolvidos no processo de sua própria formação, ou seja, tornando-se sujeitos de todo esse processo. A Educação Popular é uma educação elaborada, processada e realizada com o povo, desta maneira, toda vez que o educador partilha o seu saber através da convivência com seus educandos e cria com estes a própria experiência cultural do saber ele age produzindo cultura.
O papel de um professor, mestre, seja em qualquer âmbito da educação, é de fundamental importância que saiba tratar e ou lidar com o conhecimento e que haja comprometimento com sua prática educativa, evidenciando assim sua capacidade de escolher, decidir, romper, comparar, valorar, etc. Estes aspectos de construção e transmissão do conhecimento na cultura popular em certo sentido estão ligados à prática social de Mestre Sabú, pois sua ação se integra na cultura popular, mesmo sem ele ter uma dimensão da abrangência de seu trabalho, a sua atuação se materializa pela apropriação e autoridade que ele possui ao realizá-lo.
Ao se apropriar e ressignificar da capoeira que lhe foi ensinada, ele não só reproduziu, mas criou saberes e os transmitiu explicitando aos seus alunos o que eles estavam aprendendo. Ele criou seu próprio método de ensino e nele estava a preocupação com as potencialidades dos alunos (e seu corpo), tornando-se assim num dos elementos integrantes de seu saber e também de sua própria emancipação e humanização.
Desta prática social, preocupada com aspectos políticos-culturais e acreditando que uma nova realidade poderia ser construída – potencializada pela capoeira - em favor dos jovens marginalizados residentes na rua, surge um novo educador popular: “Mas como eu defendi toda essa nossa cultura, nossa raiz eu sou um defensor desses menores de rua, então eu sou advogado deles. Você entendeu como é o negócio?” (Mestre Sabú, 21/07/2009).
Mestre Sabú se torna um advogado do povo e da cultura, um defensor popular dos oprimidos e da cultura da Capoeira. Ele transporta o jogo/a roda da Capoeira, para a roda da vida, ou seja, do universo da Capoeira para o universo e lógica na qual sua prática social se insere. Com este gesto, fica evidente uma vez mais que sua apropriação e identificação da Capoeira e sua materialização por meio do trabalho social durante anos com esses meninos, o credencia ao status de educador popular.
Mestre Sabú é um exemplo do que Freire (1979) já afirmava, ao falar sobre a educação e o significado que ela deve ter socialmente, de como deve ser concebida pelos sujeitos: “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem” (p. 96). A partir destas palavras é possível compreender toda iniciativa e trabalho de Mestre Sabú, ao acreditar na capacidade dessas crianças em ser mais.
Um educador é sempre visto como um exemplo a ser seguido, e se tratando de um educador que emerge do meio popular, acaba se tornando um mito, uma lenda, uma referência no que faz. Todos os depoimentos obtidos através dos alunos mais velhos de Mestre Sabú, trazem consigo um juízo de valor explícito, onde os gestos as atitudes do Mestre Sabú, se decodificaram em confiança e em respeito ao saber dos educandos. O caráter formador desse ato educativo ultrapassa os limites da escola de capoeira e abrange a vida social dos alunos, se tornando uma verdadeira família. Nesse diálogo social, os sujeitos que viveram e experimentaram esta história, a partir das relações que estabeleceram entre si, são testemunhas do caráter formador de sua educação pela experiência social.
Apesar de “detentor do poder (saber)”, o que fica claro nos depoimentos dos alunos que passaram pela escola de Mestre Sabú, que ele conduziu sua prática educativa democratizando e construindo-a coletivamente com os sujeitos envolvidos na mesma. Apesar de todo idealismo, ou romantismo, sua dedicação não deixou de ser a mesma e sua prática social e educativa, foi conduzida com a mesma paixão que ele tem pela Capoeira. Esta foi sua experiência fundante, para que toda essa história fosse construída.
MACULELÊ
O Maculelê é uma manifestação cultural oriunda cidade de Santo Amaro da Purificação – Bahia, berço também da Capoeira. É uma expressão teatral que conta através da dança e de cânticos, a lenda de um jovem guerreiro, que sozinho conseguiu defender sua tribo de outra tribo rival usando apenas dois pedaços de pau, tornando-se o herói da tribo. Sua origem é desconhecida. Uns dizem que é africana, outros afirmam que ela tenha vindo dos índios brasileiros e há até quem diga que é uma mistura dos dois. O próprio Mestre Popó do Maculelê, considerado o pai do maculelê, deixa clara a sua opinião de que o maculelê é uma invenção dos escravos no Brasil, assim como a capoeira.A lenda da qual teria surgido o maculelê possui também várias versões.Em uma delas conta-se que Maculelê era um negro fugido que tinha doença de pele. Ele foi acolhido por uma tribo indígena e cuidado por eles, mas ainda assim não podia realizar todas as atividades com o grupo, por não ser um índio. Certa vez Maculelê foi deixado sozinho na aldeia, quando toda a tribo saiu para caçar. Eis que uma tribo rival aparece para dominar o local. Maculelê, usando dois bastões, lutou sozinho contra o grupo rival e, heroicamente, venceu a disputa. Desde então passou a ser considerado um herói na tribo.Outra lenda fala do guerreiro indígena Maculelê, um índio preguiçoso e que não fazia nada certo; por esta razão, os demais homens da tribo saíam em busca de alimento e deixavam-no na tribo com as mulheres, os idosos e as crianças. Uma tribo rival ataca, aproveitando-se da ausência dos caçadores. Para defender a sua tribo, Maculelê, armado apenas com dois bastões já que os demais índios da sua tribo haviam levado todas as armas para caçar, enfrenta e mata os invasores da tribo inimiga, morrendo pelas feridas do combate. Maculelê passa a ser o herói da tribo e sua técnica reverenciada.Conta outra lenda que a encenação do Maculelê baseia-se em um episódio épico ocorrido numa aldeia primitiva do reino de Ioruba, em que, certa vez, saíram os guerreiros juntos para caçar, permanecendo na aldeia apenas 22 homens, na maioria idosa, junto das mulheres e crianças. Disso aproveitou-se uma tribo inimiga para atacar, com maior número de guerreiros. Os 22 homens remanescentes teriam então se armado de curtos bastões de pau e enfrentado os invasores, demonstrando tanta coragem que conseguiram colocá-los em debandada. Quando retornaram os outros guerreiros, tomaram conhecimento do ocorrido e promoveram grande festa, na qual os 22 homens demonstraram a forma pela qual combateram os invasores. O episódio passou então a ser comemorado freqüentemente pelos membros da tribo, enriquecido com música característica e movimentos corporais peculiares. A dança seria assim uma homenagem à coragem daqueles bravos guerreiros.Podemos ver que a primeira lenda indica a mistura da cultura africana com a indígena quando se diz que um “negro fugido” é acolhido por uma “tribo indígena”. Na outra já não há a menção de negro fugido ou escravo, o protagonista era o “índio preguiçoso”. Indicação da origem indígena. E por fim, na terceira versão diz que o episódio aconteceu em uma “aldeia primitiva no reino de Ioruba”. Indicação de origem africana.Há muitas outras versões de lendas sobre o Maculelê, mas todas sustentam a versão de um guerreiro sozinho, enfrentando a invasão inimiga com apenas dois bastões.Por muito tempo o maculelê foi apresentado nas ruas e praças da cidade, nos dias de festa da padroeira conforme Mestre Popó, explica com suas próprias palavras em uma entrevista cedida à Maria Mutti em 16/12/1968 em Santo Amaro – Bahia:“Segundo Mestre Popó, Maculelê é luta e dança ao mesmo tempo, se um feitor aparecia na senzala à noite, pensava que era a maneira de adoração aos deuses das terras deles (dos negros escravos), as músicas não davam ao feitor entender o que eles cantavam.A festa era realizada de 8 de dezembro (consagração de Nossa Senhora da Conceição) e 2 de fevereiro (dia de Yemanjá) em Santo Amaro da Purificação. Acontecia nas praças e nas ruas da cidade e era considerada uma festa ``profana'' realizada pelos negros escravos.“em marcha guizada, a ``Marcha de Angola’’, que tem algo de Capoeira e de Samba, tudo isso em Movimentos sempre ao compasso das batidas das grimas (bastões).”Mestre Popó do MaculelêNo início do século XX, com a morte dos mestres do Maculelê, a manifestação deixou de acontecer por muitos anos, até que em 1943, Paulino Aluisio de Andrade, o Mestre Popó do Maculelê, resolve reunir parentes e amigos para ensinar a dança baseado em suas antigas lembranças. Consegue então resgatar o Maculelê e forma o Conjunto de Maculelê de Santo Amaro o qual ganhou grande fama. Mestre Popó começou a aprender o Maculêle com um grupo de pretos velhos, ex-escravos Malês, livres. Segundo ele já não tinha mais escravidão nessa época e eles se reuniam à noite: João Oléa, Tia Jô e Zé do Brinquinho: "eles eram livres, mas quem botou o Maculelê fui eu mesmo" (Popó).Segundo Plínio de Almeida (Pequena História do Maculêle) o Maculêle existe desde 1757 em Santo Amaro da Purificação e as cores branca e vermelha nos rostos, que assustavam as pessoas, poderia ser símbolos de algumas tribos Africanas, como por exemplo, os Iorubas. Mas na verdade fica muito difícil identificar exatamente à qual grupo étnico está associado à origem do Maculêle. Podemos citar, por exemplo: os Cabindas, os Gêges, os Angolas os Moçambiques, os Congos, os Minas, os Cababas.InstrumentosO instrumento fundamental no maculelê é o atabaque. Na época de Mestre Popó eram usados três atabaques seguindo a formação do candomblé. Outros instrumentos como o agogô e o ganzá também eram tocados durante a apresentação. Hoje vemos apresentações de maculelê, na maioria das vezes somente com o atabaque.Indumentária e PinturaNa época de Mestre Popó a indumentária era simples, de acordo com as condições cotidianas dos dançarinos. Geralmente usavam camisas e calças comuns aos africanos, de algodão cru e pés descalços.Estes pintavam os rostos e as partes desnudas com tintas feitas com restos de fuligem de carvão ou de fundo de panelas. Exageravam na tintura vermelha que usavam na boca que era feita com sementes de urucum. Algumas pessoas do grupo empoavam suas cabeleiras com farinha de trigo, usavam touca nas cabeças ou lenço no pescoço. CânticosMuitos dos cânticos do maculelê, provém dos candomblés de caboclo, alguns das canções de escravos e outros até fazem menções à cultura indígena. Os cânticos acompanham o desenrolar da apresentação do maculelê. Cada parte da encenação do maculelê tem a sua cantiga certa que acompanha. São muitos os cânticos do maculelê e cada grupo tem os seus prediletos. Eis alguns deles cantados antigamente na época de Mestre Popó:Cântico para saudação:Ô boa noite pra quem é de boa noite/Ô bom dia pra quem é de bom dia/A benção meu papai a benção/Maculêle é o rei da valentia.Homenagem à Princesa Isabel: (alguns homenageiam Zumbi dos Palmares):Vamos todos louva/A nossa nação brasileira/Viva a dona Isabel (ou Zumbi dos Palmares) /Ai meu Deus/Que nos livrou do cativeiro Peditório: (ocorre nas saídas às ruas):Deus que lhe dê, ê/Deus que lhe dá, á/Lhe dê dinheiro/Como areia no mar.Louvação aos pretos de Cabindas ou Louvor a Nossa senhora da Conceição:Nós somos pretos da Cabinda de Aruanda/A Conceição viemos louvar/Aranda ê, ê, ê/Aranda ê, ê, á.Fulô da Jurema, de influência indígena:Você bebeu Jurema/Você se embriagou/Com a fulô do mesmo pau/Vosmicê se levanto.Saudação de chegança:Ô sinhô dono da casa/Nós viemos aqui lhe vê/Viemos lhe pergunta/Como passa vosmicêSaudação de despedida:Quando eu for embora ê/Todo mundo chora ê. Em cenaDurante a apresentação do maculelê, os componentes, que representam a tribo rival, formam um círculo em volta de uma pessoa, que representa o herói. Todos sustentando um par de bastões nas mãos. O desenrolar da história é contado através dos cânticos que são respondidos em côro. Além do côro os componentes batem os bastões (grimas) no ritmo do atabaque que é tocado pelo mestre do maculelê.O Maculelê hojeHoje o maculelê se mantém preservado graças à sua incorporação por grupos de capoeira, que incluíram a dança nas suas apresentações em batizados e festas populares. Os componentes se apresentam vestidos de saia de sisal, sem camisa e com pinturas pelo corpo. Há também alguns grupos que preferem se apresentar com seus abadás usuais, o que deixa evidente a sua descaracterização, o que deve ser evitado para que não percamos mais uma manifestação cultural através do esquecimento de suas raízes.O maculelê faz parte do folclore brasileiro e deve ser preservado como patrimônio cultural, assim como a capoeira. Deve ser mantido e respeitado como tradição. Seja ela trazida por nossos irmãos africanos ou criada pelos nativos indígenas, a beleza do maculelê traz em si os traços da miscigenação cultural de um país onde a cultura é a mais rica do mundo, apesar de não receber o reconhecimento que merece.Salve o Maculelê Salve Mestre Popó.
Bibliografia: -Mutti, Maria: Maculêle, Santo Amaro da Purificação, 1968.-Carybé: As Setes Portas da Bahia, Coleção Recôncavo, Ed. Livraria, 1951 2a.Edição.-Almeida, Plínio de: Pequena História do Maculêle.
CAPOEIRA TIRIRICA
Eu, pessoalmente, prefiro não entrar nessa briga e dizer que a capoeira, assim como o samba e outras manifestações da cultura afro-brasileira, não tem certidão de nascimento. Elas surgem em vários lugares e regiões do país, tomando formas variadas e até conhecidas por nomes diversos. Podemos até dizer que onde quer que o negro africano tenha chegado, ali se organizou algum movimento cultural para se lembrar de sua terra natal, através da dança, da música, do tambor, dos rituais. Assim surgiu a maioria das manifestações culturais da nossa cultura popular de origem afro-brasileira, em vários locais e épocas diferentes. A capoeira é brasileira…e ponto final !!!Na cidade de São Paulo, por exemplo, há notícias e relatos de uma manifestação muito popular nas primeiras décadas do século XX, conhecida por Tiririca. Segundo contam os mais velhos, na região do bairro do Bom Retiro e imediações, havia um contingente muito grande de trabalhadores negros recém libertos, e em suas reuniões no Largo da Banana, nos momentos de folga, o batuque “comia solto”. Ora, onde tem batuque e um bocado de negros reunidos, só pode dar samba ou capoeira…ou os dois juntos.Era o que acontecia, e muitas vezes, segundo nos conta um famoso malandro da área ainda vivo – o Toniquinho Batuqueiro – os batuques eram improvisados em caixas de engraxar sapatos fazendo a marcação, e as latinhas de graxa faziam as vezes do tamborim, assim como até hoje se apresenta em seus shows, outro famoso malandro sambista de São Paulo – Germano Mathias.Toniquinho conta que quando começava o batuque, a roda se formava e “os crioulos iam pro centro da roda sapatear, e aí então só ficava na roda mesmo quem era bamba, pois a toda hora entrava um pra desafiar, dar pulo, pernada, pra desbancar quem tava no centro da roda”. Essa era a famosa Tiririca, que não muito diferente da capoeira, era uma disputa entre bambas na roda, onde se valia das habilidades e destrezas corporais, para se medir a valentia. E cuidado com a polícia viu, pois “…quando ela baixava, era uma correria só” explica Toniquinho Batuqueiro.Hoje em dia já não temos mais registros da prática da Tiririca em São Paulo, restando apenas alguns testemunhos vivos dessa época, todos ligados ao samba paulistano, como Osvaldinho da Cuíca e Carlão do Peruche, sem falar num grande sambista já falecido, esse também um exímio praticante da Tiririca, o grande Geraldo Filme.Leia Mais: TIRIRICA: A "Capoeira de São Paulo" | Crônicas da Capoeiragem - Capoeira no portalcapoeira.com
LEIS DE INCENTIVO A CAPOEIRA
A nossa capoeira foi reconhecida com o seu devido valor pelos governantes do nosso país. Agora isso é garantido por lei. Estes criaram algumas leis para protegê-la e beneficiá-la. Leia abaixo sobre as leis citadas.Ano CXLVII No 138Brasília - DF, quarta-feira, 21 de julho de 2010Seção III Da CulturaArt. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das sociedades negras, clubes e outras formas de manifestação coletiva da população negra, com trajetória histórica comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades dos quilombos o direito à preservação de seus usos, costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção do Estado.Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos, tombados nos termos do § 5o do art. 216 da Constituição Federal, receberá especial atenção do poder público.Art. 19. O poder público incentivará a celebração das personalidades e das datas comemorativas relacionadas à trajetória do samba e de outras manifestações culturais de matriz africana, bem como sua comemoração nas instituições de ensino públicas e privadas. Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de natureza imaterial e de formação da identidade cultural brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição Federal.Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio dos atos normativos necessários, a preservação dos elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas relações internacionais.Seção IV Do Esporte e Lazer. Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da população negra às práticas desportivas, consolidando o esporte e o lazer como direitos sociais. Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional, nos termos do art. 217 da Constituição Federal.§ 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território nacional.§ 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos.